quarta-feira, 15 de agosto de 2007

ENTREVISTA DE PINTO DA COSTA (CONTINUAÇÃO) - II

SEGUNDA PARTE

J: Acreditava que ela ia escrever o livro?

PC: Eu acredito em tudo. Conforme de onde vêm as coisas acredito em tudo. E depois sei que houve contactos no Porto com várias editoras para LFV que alias vem na CS que quem a tinha levado à PJ para apresentar um agente foi o Sr .LFV em Lisboa. Isto nunca foi desmentido. Foi a Leonor Pinhão, a mando de LFV, apresentar-se à D. Quixote. A Dra. Teresa Coelho da editora telefonou para Espanha, que não queriam editar. Tiveram que garantir a compra de um determinado número de exemplares para permitir a publicação.

É evidente que agora, sabendo-se quem está por trás do livro, compreende-se o que diz o Sr. Joaquim, e a partir daí é tudo ficção. Tal é a ficção que o filme que tem origem no livro é dito que é um filme de ficção.

J: Por questões jurídicas também!

PC: Então o livro também tem que ser tomado por ficção. Agora diz-me assim: “É considerada idónea a “senhora” que vem falar?”. Se eu quiser pôr em causa ou atestar a sua idoneidade, eu não duvido dela, mas tinha que saber o seu passado. Como é que se pode considerar idónea uma pessoa que aos 16 anos o pai a interna numa casa, não direi de correcção, mas era conhecida na altura... não era para as meninas bem comportadas. Foge de lá e aos 18 ou 19 anos, sem casamento tem dois filhos, que depois tem o passado que tem, que eu tive de romper porque realmente são coisas que guardo para mim. A partir desse momento o que é que vem a seguir? Eu tive um incêndio no meu escritório onde guardava as coisas que tirei de casa, do FCP para pôr num escritório que ninguém sabia onde lá estavam. O indivíduo que foi lá chegar o fogo e na mesma noite ao escritório do Dr. Lourenço Pinto, que era meu advogado, já confessou tudo ao MP.

Na casa da Madalena, onde vivemos, fizemos um acordo. Ela deixava-me a casa onde eu tinha as tais coisas da minha vida do FCP. Pois através desse Dr. Dantas ela entregou-me a casa destruída. Chamei a GNR com o Dr. Dantas e uma advogada do seu escritório, foram identificados e tiradas fotografias. Destruída! Fios eléctricos arrancados. E o senhor que a ajudou a fazer esse trabalho já confessou tudo, até em livro. Aquilo que escreveu pormenorizadamente corresponde exactamente com as fotografias em poder da GNR. A pessoa que faz isto é considerada idónea e serve para reabrir processos judiciais? Uma pessoa que me roubou imensas coisas. Apresentei uma queixa por roubo. Dizia que não tinha nada.

A policia restituiu-me algumas coisas dizendo que foram encontradas na garagem da “senhora”. É isto uma pessoa com idoneidade? É esse critério que eu contesto!

J: Como se sente ao ver a sua vida privada exposta desta forma?

PC: Lamento sinceramente. Naturalmente que há coisas que são tabu e que cada um guarda para si. Eu guardo muita coisa para mim porque senão escrevia um Best-seller, mas é preciso ter princípios, agora quando não se tem...

Ontem ou anteontem, achei muita graça, quando o comentador da RTPN, ao comentar a Revista de Imprensa, dizia que achava graça ao facto de todos os dias invariavelmente vir uma página ou duas sobre o filme da Corrupção. Isto realmente é fantástico, parece que nunca em Portugal...

J: Foi na Revista da Imprensa da SIC

PC: Não era minha intenção fazer publicidade à RTPN! (risos)

J: Este livro é uma vingança... um ajuste de contas?

PC: Este livro não é uma vingança. Este livro é dizer assim, no dia 14 de Maio de 2006, o indivíduo que andou com ela, digamos assim, para ser um termo moderado, fez uma entrevista no CM. Estava eu no Hotel Altis e meteram-me o jornal por debaixo da porta, na véspera de um jogo do Benfica e vinha a fotografia desse sujeito a exibir um prato, um capacete e um fato meus que reconheci e ainda hoje não me foram restituídos, embora tenham dito que foram entregar na polícia ou no tribunal, a mim é que não os restituíram. Dizia nessa entrevista, em que não era inventado porque os objectos estavam identificados, o capacete até tinha o meu nome, que era o capacete com que eu ia às obras durante a construção do Estádio e ele dizia assim: “Carolina Salgado quer extorquir 500 mil euros a Pinto da Costa”. Está lá escrito. E depois foram a um Banco e raparam-me a conta, de que existe uma queixa na polícia. Como não acedi a isso, foi não só uma vingança por esse facto como também uma forma de receber dinheiro.

Há dois anos que ela não trabalha e continua a viver faustosamente!

J: Continua a manter contactos com a família..., com Ana Salgado?

PC: Não, com ninguém.

J: Não sabia sequer que ela ia fazer o depoimento no DIAP do Porto?

PC: Não. Soube que ela o tinha feito. A única coisa que eu soube da D. Ana Maria foi que um dia o Dr. Lourenço Pinto me telefonou a dizer que tinha sido contactado por ela, que tinha em seu poder objectos que eram meus que a Carolina tinha posto à guarda em sua casa e que ela achava que não os devia ter por estar indevidamente com coisas minhas, como sei através do Dr. Lourenço Pinto que lhe telefonavam para dizer que precisavam das coisas para vender.

Disse ela que recebeu das mão de Leonor Pinhão um quadro que a Carolina tinha dado ou vendido a LFV e restituiu-me esse quadro por intermédio do Dr. Lourenço Pinto.

J: A Carolina Salgado é hoje na sua vida, uma desilusão, uma frustração, um trauma?

PC: Não. Digamos... como é que lhe vou definir? Olhe, é uma coisa sem nexo. Eu guardei muita coisa, aturei muita coisa, pelos filhos, porque gostava muito deles. Portanto chegou a um ponto que entendi que tinha que me sacrificar pela minha filha e não pelos filhos dos outros.

Repito, o livro só nasce pelas ameaças do Dr. Dantas e porque, ninguém lhe queria editar o livro, LP e LFV garantiram a compra.

J: O senhor durante mais de vinte anos criou publicamente uma imagem de dirigente implacável, de um profissional do futebol, como se dizia, que adormecia e acordava a pensar no Porto. E nos últimos anos começou surpreendentemente a aparecer nas revistas cor de rosa, começamos a poder ser testemunhas de momentos da sua vida social. Arrepende-se de ter aberto essa porta?

PC: Eu não abri bem a porta. Claro que se reparar eu deixei de aparecer. Eu fui envolvido porque realmente ela tinha uma fobia, tinha uma loucura de protagonismo que não aguentava deixar de aparecer. Às vezes fui arrastado para essa situação. Eu fui casado e vivi muitos anos com a mãe da minha filha, era tão importante como presidente do Porto como agora, ou até mais, porque em 1987 o Porto tinha sido Campeão Europeu, o que era impensável, um clube português ser Campeão dava muito protagonismo, mas eu evitei sempre e continuo a evitar.

Há pessoas que não podem viver sem isso e uma certa CS também não pode viver sem essas pessoas. São o seu padrão moral e tem que as promover porque é isso que vende esse tipo de jornais.

J: Vamos ao futebol novamente, às investigações do AD e às suspeitas que já eram muito anteriores ao AD. O senhor tem ou não conhecimento de que há dirigentes desportivos que escolhem os árbitros para as partidas de futebol?

PC: Há uma coisa engraçada. Deixe-me dizer-lhe já agora, que tenho lido muitas vezes, então no CM é todos os dias. Eu combinava os árbitros com o Sr. Pinto de Sousa. Curiosamente o Sr. Pinto de Sousa não nomeava, não escolhia árbitros porque os árbitros da Liga, das Ligas que nós ganhamos eram nomeados, são nomeados, classificados e julgados pela Comissão de Arbitragem da Liga que nem sequer falavam com o Sr. Pinto de Sousa, havia um mau relacionamento e então eram dirigentes, um era até magistrado, o Dr. Cruz Pereira que nomeavam, escolhiam, julgavam e classificavam tudo. O Sr. Pinto de Sousa não tinha nada. Pois essa “senhora” veio dizer que todas as semanas ou quinzenalmente eu me juntava com o Major Valentim Loureiro para escolher os árbitros para o Porto.

J: Tudo ficção?

PC: Ficção. Quer dizer, por acaso nunca ela jantou connosco, nem eu com os três, jantar era raro, mas almoçar com um ou com o outro, até porque sou amigo do Pinto de Sousa desde os bancos de escola. Agora como é que se pode vir dizer, que credibilidade tem vir dizer, é a mesma coisa que vir dizer, olhe ele combina realmente as operações de Bolsa com aquele indivíduo que é médico! O Sr. Pinto de Sousa não tem nada a ver com os árbitros da Liga, nada, rigorosamente nada.

J: Mas a pergunta era se há dirigentes de clubes de futebol que conseguem escolher ou influenciar a escolha dos árbitros.

PC: Actualmente e desde os tempos da Liga eu penso, lá está não posso pôr as mãos no fogo, ponho por mim e desafio algum dirigente das Comissões de Arbitragem, desafio aqui algum que venha dizer que eu alguma vez, não é indicar, tenha tentado que lhe indicasse qualquer árbitro, desafio publicamente qualquer um. Agora é evidente, e por ele publicamente foi assumido, que o Sr. Pinto de Sousa, quando, dos jogos da Taça de Portugal, que eram os únicos que lhe competiam, tinha que nomear um árbitro procurava um consenso até para defesa dele que era a sua teoria. Se o árbitro errar nenhum pode dizer nada porque foi com o acordo deles. Há telefonemas do Sr. LFV para o Major VL a escolher árbitros. Há um Benfica -Belenenses em que lhe perguntam, O António Costa? Esse não porque é não sei o quê, o Fulano? Esse também não porque não dá confiança, e o João não sei quantas? Bem o João pode ser. Mas olha o que me estava prometido era “aquele”. Isso está escrito!

J: LFV é o dirigente que escolhe árbitros?

PC: Não é o que escolhe, “também” era ouvido na escolha dos árbitros para a Taça.

J: O senhor tem essa percepção, de que um árbitro é a favor de um clube ou outro a favor de outro?

PC: Não tenho essa percepção. Aquilo que eu penso dos árbitros é o seguinte, o árbitro o que quer é arbitrar bem. Porque a senhora está a entrevistar-me e não está preocupada se eu estou bem ou mal, o que quer é fazer bem o seu trabalho porque o sabe fazer e tem o seu brio. Um árbitro o que quer é arbitrar bem porque quer ser internacional, porque quer ser o melhor. Agora o que há é árbitros com critérios diferentes. Por exemplo, pode para determinado jogo, o clube gostar de ter um árbitro, não é que seja mais ou menos sério do que outro.

J: O senhor tem contactos pessoais com os árbitros antes dos jogos ou tem alguma?...

PC: Não. Agora não tem nem pode ter porque há um delegado, há um quarto árbitro, só o delegado ao jogo que é que pode ter contacto com o quarto árbitro, os outros só pontualmente.

J: Agora. Antigamente tinha?

PC: Antigamente quem ia para o banco é que era o delegado. Tinha como toda a gente tinha antes do jogo. Tinha que se ir levar as licenças, tinha que se ir buscar as coisas, tinha que se...

J: Mas recebia-os em sua casa?

PC: O único árbitro que foi a minha casa... também foi dito por essa “senhora” que ia provar árbitros. Nunca provou nada nem pode provar porque nunca foi nenhum. Dizia que tinha contratos paralelos dos jogadores do FC Porto que ia apresentar, nunca apresentou nenhum.

J: Com dinheiro que estava a ser enviado para Of shores, para paraísos fiscais.

PC: Nunca tive Of shores. Autorizo toda a gente a vasculhar a minha vida, tudo isso. O FC Porto nunca teve contas fora. Nós temos lá, até chamamos na brincadeira o gabinete das finanças, porque temos lá permanentemente fiscalizações por isto, por aquilo, pelas transferências... aquilo é visto a pente fino. Nós ainda há dias vendemos o Pepe ao Real Madrid. Ainda não estava feito o contrato e já nos estavam a pedir a factura do Empresário. O contrato tinha sido feito há um dia pelo telefone, porque as negociações vinham de há muito e até as pessoas brincam agora porque diziam assim. “Oferecemos 25 Milhões e é para acabar”, então está acabado e para começar são 30 milhões, está desfeito o negócio. No último dia perguntaram-me se podia partir ao meio. Não parte nada ao meio que o jogador tem de ir inteiro. São 30 Milhões ou nada. Sim senhor então vamos...

J: Não há dinheiro por debaixo da mesa no FC Porto?

PC: Não há. E se alguém pode provar que não há somos nós, ou então todas as fiscalizações das finanças que passam lá dias e dias e dias e vêm tudo, são incompetentes.

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