quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

VERDADE DESPORTIVA? QUAL?

A frase começou a tornar-se badalada a partir da altura em que a hegemonia do futebol português se mudou para Norte, mais propriamente para o Porto, numa luta titânica para desvalorizar as conquistas do seu mais lídimo representante.

Até lá, não me lembro de alguma vez ter sido sequer pronunciada, muito menos posta em causa, apesar dos inúmeros casos que proporcionaram aos clubes da capital juntar aos seus palmarés títulos atrás de títulos. Vivíamos então num regime político de direita, fechado, controlador, egocêntrico e macrocéfalo, que fazia da capital o modelo e das suas instituições os seus símbolos.

Em termos desportivos, que é afinal a razão desta crónica, os problemas relacionados com a verdade desportiva, ou falta dela, como preferirem, começaram realmente e em simultâneo com o inicio das competições. Como não podia deixar de ser, a arbitragem esteve sempre na mira de fogo dos clubes, face à sua má qualidade e permeabilidade, potenciando naturais desconfianças e algum mal estar.

A Federação Portuguesa de Futebol chegou mesmo a recorrer ao serviço de árbitros espanhóis para os jogos de maior importância.

A Comunicação Social de então, restringida às emissoras de rádio, aos jornais generalistas e a alguns desportivos com tiragens bi-semanais ou semanais, fazia uma cobertura dos acontecimentos de forma bastante tendenciosa, protegendo os clubes do coração, sem nunca questionar a verdade.

Só quem acompanhava «in-loco» percebia tal comportamento, ficando a maioria dos interessados pelo desporto rei à mercê do que liam ou ouviam nos relatos radiofónicos. O aparecimento da RTP, nos finais dos anos cinquenta, ao invés de ser aproveitada para um clima clarificador, face à inegável força da imagem, serviu apenas para alimentar os interesses instalados, na defesa e branqueamento, mais uma vez dos principais clubes da capital do império.

Servida por ex-atletas de Benfica e Sporting, os poucos programas desportivos eram desenvolvidos segundo a máxima salazarista «a Bem da Nação», seleccionando-se criteriosamente as notícias, os relatos e as imagens, de forma a não constituírem engulhos a uma sociedade que se queria apresentar como perfeita.

A revolução dos cravos teve o condão de democratizar a sociedade em geral e a desportiva em particular. Ao futebol profissional chegaram novas e mais modernas estruturas, terminando o reinado das Associações, substituídas pelo voto dos clubes.

A Comunicação Social, como não poderia deixar de ser, sofreu também uma enorme evolução. A televisão, as rádios e os jornais expandiram-se, originando em termos desportivos, um leque de escolhas nunca visto. São os jogos de futebol em directo pelas TV's, programas desportivos quase diários, debates, entrevistas, jornais desportivos com tiragens diárias, enfim, um manancial verdadeiramente fantástico que colocou ao dispor dos interessados a capacidade de analisarem e pensarem com a sua cabeça, isto naturalmente se conseguirem ficar imunes às influências de apresentadores, comentadores ou convidados. É que dos tiques da ditadura alguns não se livraram. As capas do jornais desportivos e a diferença de tratamento que dão aos diferentes clubes, são apenas pequenos exemplos elucidativos.

Ora era aqui que eu queria chegar!

Deve a verdade desportiva restringir-se às competições e aos seus agentes, ou deverá também estender-se à CS? Não tem esta a obrigação de ser isenta e verdadeira, defensora da imagem que se pretende para o futebol português e desporto em geral? Creio que as respostas são óbvias!

Quando vejo a CS ceder de forma irresponsável às pressões e chantagem despudoradas e ridículas de um auto proclamado paladino da transparência, sempre metido em situações obscuras, e a tonar-se cúmplice daquilo que foi a mais vergonhosa tentativa de assassinato desportivo do melhor dirigente desportivo português de todos os tempos, tenho que ficar com a pulga atrás da orelha!

Quando vejo um «iluminado», todas as semanas, a fazer juízos de valor, a espalhar a intriga e a maledicência, a fazer análises obtusas, que as próprias imagens desmentem e pomposamente propor uma subscrição pública na defesa da verdade desportiva, fico naturalmente desconfiado.

Quando vejo comentadores desportivos (um de voz esganiçada, a fazer inveja à mais castiça peixeira do mercado do Bolhão, outro de ar cínico ao estilo das melhores personagens dos filmes de Hitchcock), perante imagens esclarecedoras, distorcer pateticamente a verdade, na defesa das suas cores, tenho que perguntar: «Que raio de verdade desportiva querem eles?»

Não necessito de resposta, porque o que eles querem sei eu bem.

Obs.: Tive o cuidado de não ilustrar com imagens esta crónica por questões ecológicas.

Um comentário:

dragao vila pouca disse...

Meu caro, a verdade desportiva só existe quando eles ganham; a competitividade e a credibilidade da Liga, idem; os árbitros se erram a nosso favor são corruptos, mas se erram a favor deles são seres humanos e portanto, estão sujeitos a errar; é assim o futebol português desde que o F.C.Porto passou a ser dominador. Porquê?, porque, como dizes e bem, a C.Social é quase toda anti-portista e funciona como a máquina de propaganda nazi - uma mentira muitas vezes reoetida passa a ser verdade. Não admira por isso, que o reconhecimento internacional seja maior que o nacional...

Um abraço