terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

BAÚ DE MEMÓRIAS

Este é o título da nova rubrica deste blog, que pretende recordar momentos, personagens, equipas e atletas que contribuíram para elevar bem alto o nome e o prestígio do FC Porto.

Sócio desde 1969, naturalmente que darei destaque às recordações mais vivas na minha memória e por isso decidi iniciar com aquele que eu considero o ano da sementeira do que viria a tornar-se o arranque da hegemonia do FC Porto no futebol nacional.

O ANO DA VIRAGEM

Na já longínqua época de 1977/78, fruto de um trabalho sério, de uma estrutura firme, de um planeamento inteligente, de um apoio fervoroso e quente de milhares de adeptos, de uma confiança inabalável dos dirigentes, José Maria Pedroto e os seus comandados alcançaram, decorridos 19 anos de esperanças e desilusões, de fé e desespero, o título de Campeão Nacional. Na altura o 6º do historial do Clube.


O Plantel era formado pelos seguintes atletas:

Guarda-redes: Fonseca, Torres, Carlos Alberto e Rui
Defesas: Gabriel, Freitas, Simões, Murça, Teixeira, Pereira, Paulo, Taí e Teixeirinha
Médios: Rodolfo, Octávio, Celso, Nogueira, Freitas II e Brandão
Avançados: Oliveira, Gomes, Duda, Séninho, Ademir, Vital, Toninho Metralha, Jairo, Gonzalez e Santos.

(A cheio os mais utilizados)

O Porto, que mantinha um braço de ferro com o Benfica, recebeu o seu rival na 28ª jornada, no que era considerado o jogo do título. O Resultado da primeira volta na Luz tinha registado uma igualdade sem golos.

O Estádio das Antas apresentou uma moldura impressionante. A lotação excedeu a sua capacidade. As bancadas, ainda despidas de cadeiras permitia a aglomeração de adeptos que viram o jogo todo de pé.

Assisti a um jogo verdadeiramente arrasante, com emoção a rodos, salpicada por lances de bom futebol.

Bem cedo um arrepio percorreu os adeptos do FC Porto: Simões, o nosso defesa central (na época designava-se quarto-defesa) marcou, aos 3 minutos, um golo na própria baliza.

Toda a equipa se sentiu fustigada pela infelicidade e reagiu de imediato atacando em peso, algumas vezes com mais coração que cabeça. Pedroto arriscou tudo e fez sair um dos centrais (Freitas) para entrar mais um avançado (Vital).

Foi só a sete minutos do final que o ansiado empate surgiu, num livre apontado por Ademir, provocando uma grande explosão de alegria. O título ficava cada vez mais perto.

Mas o jogo da festa, da consagração, da alegria, do extravasar final de todo um entusiasmo e pavor contidos durante dezanove anos, realizou-se no Estádio da Antas , frente ao Sporting de Braga, na 30ª e derradeira jornada.

A luta pelo título que o Porto mantinha com o Benfica mantivera-se até à última, face à igualdade pontual, ainda que com confortável vantagem para os Dragões no factor de desempate, que era a diferença de golos marcados e sofridos. O Porto era obrigado a vencer.

No meio da loucura de cerca de 70.000 adeptos. aos 34 minutos Oliveira provocou o delírio, fazendo o primeiro de quatro golos com que terminaria o jogo.

O Porto sagrava-se Campeão depois de um largo jejum de dezanove anos, apenas com uma derrota, no Estoril por 2-0, sete empates e vinte e duas vitórias, somando 51 pontos. Marcou 81 golos (melhor ataque) e sofreu 21 (segunda melhor defesa).

Nunca, como nesse ano, foi visível tamanha mobilização popular em torno deste objectivo. E não se julgue que foi só na região do Porto. Assisti a todos os jogos nas Antas e acompanhei nesse ano o Porto em várias deslocações, que arrastou sempre uma enorme falange de apoio (Varzim, Benfica, Académico - a actual Académica, Braga, Feirense, Sporting, Guimarães e Boavista) e em quase todas as cidades visitadas havia portistas locais a incentivarem-nos e até adeptos de outros clubes. Foi o que se pode chamar um tsunami azul e branco.

Fernando Gomes foi o artilheiro-mor com 25 golos (participou apenas em 25 jogos), vencendo a bola de prata.

José Maria Pedroto, nortenho de quatro costados começou a sua carreira no Leixões. Depois, o serviço militar levou-o para Vila Real de Santo António e jogou no Lusitano. O Belenenses foi outro clube onde jogou até se fixar no FC Porto onde atingiu o apogeu da sua carreira, revelando-se um dos melhores centro-campistas que passaram no futebol português.

Foi campeão rm 55/56, com Yustrich e em 58/59, com Guttman.

Em 1960, Pedroto torna-se o primeiro treinador português com curso superior. Foi um treinador com excelentes capacidades técnicas associadas a um discurso agressivo, sempre pronto a enfrentar, sem papas na língua, o poder instituído, quer da FPF, quer da Comunicação Social que tal como hoje endeusava e branqueava os clubes da segunda circular.

Enquanto treinador, continuou a evidenciar-se nos "estudos", obtendo uma brilhante classificação num curso de treinadores efectuado em França. Estes resultados aliados ao bom trabalho nas camadas jovens do FC Porto, levaram-no ao posto de treinador da selecção nacional de júniores. Com Pedroto ao "leme" Portugal conquistou o seu primeiro título Europeu!

Com Pinto da Costa como Director do Futebol Profissional do FC Porto, José Maria Pedroto organizou o departamento e vocacionou-o para o grande clube mundial que é hoje.

2 comentários:

dragao vila pouca disse...

É importante recordar a saga heroica de 77/78 para que todos os portistas, principalmente os mais novos, tenham ideia do que foi preciso passar para agora terem um clube campeão.Também acompanhei de perto essas épocas gloriosas e que lançaram as sementes da glória. É pena que Pedroto não tenha vivido o suficiente para ver os frutos do seu grande trabalho.

Nicolau d'Almeida disse...

Para quem, como eu, não era nascido nessa data, ler esta história é uma verdadeira delícia. Sou portista da "nova escola" mas pelas leituras que faço da História do nosso clube e também por testemunho parental tenho a perfeita noção do quão complicado foi o projecto de tornar o Porto Campeão. Sem dúvida, temos que ser eternamente gratos com todos aqueles que possibilitaram tornar o Porto naquilo que é hoje. Parabéns pela bela história que contou. Aguardo pela próxima relíquia que possa sair do "baú de memórias". Abraço.