quinta-feira, 16 de agosto de 2007

ENTREVISTA DE PINTO DA COSTA (CONTINUAÇÃO) - IV

Dado tratar-se de uma entrevista bastante extensa, decidi dividi-la em cinco partes.

Se pretende acompanhar toda a entrevista, pela ordem em que foi transmitida e só agora entrou neste blogue, sugiro que o faça pela ordem das divisões.


QUARTA PARTE

J: Se o Manchester namorar o Quaresma deixa-o ir?

PC: Se for vontade do Quaresma e o Porto for devidamente compensado naturalmente que vou ter um procedimento igual com o Quaresma. O que eu não faço é agora um lembra-se amanhã e acorda a dizer que quer o Manchester. Estas coisas são pensadas a tempo. Quando acertamos o negócio com o M.U. , o Anderson já estava falado há muito tempo. Houve uma conversação, o Carlos Queirós perguntou se admitíamos vender o jogador e ficou combinado falarmos na altura própria. Imediatamente passamos a admitir a possibilidade dele sair e tomamos as medidas. Foi por isso que contratamos o Leandro Lima, que não sendo igual, porque não há jogadores iguais a esse nível.

J: O que eu lhe queria perguntar é se eles foram bem substituídos, se esses lugares foram bem preenchidos?

PC: Foram, penso que sim. Jogadores como o Leandro Lima, Mariano Gonzalez, como outros que adquirimos são grandes jogadores. Agora têm um período de integração, porque quando uma equipa é bicampeã, é no ano passado eliminada pelo Chelsea da maneira que foi, com a passagem aos quartos de final quase na mão é evidente que tem que ser uma grande equipa. Há poucos jogadores que se vão buscar e possam ser titulares. Nós fomos buscar um jogador de grande futuro à Argentina, que é o Bolatti mas que tem de ter um período de adaptação, porque o ritmo do futebol europeu é muito diferente do ritmo do futebol sul-americano. Por exemplo, para a Super taça de Sábado, estou convencido, sem pretender influenciar o treinador, que não o é, tenho a certeza que a grande maioria, pelo menos 9 ou 10 jogadores vão ser do ano passado, porque têm ritmo e estrutura. Nós não vamos buscar jogadores para calar os sócios, mostrar aos sócios, para os jornais colocarem nas primeiras páginas. São jogadores que daqui a um ou dois meses estarão integrados. O Anderson quando veio para o FC Porto era considerado um génio. E era, mas andou a jogar na equipa B três meses e andou a entrar aos bocados. No ano seguinte foi para o Manchester por 31,5 M. Para lhe dizer que quando as negociações interessam a ambas as partes eu deixo-os partir e tenho muito orgulho, disse isso ao Pepe quando esteve há anos para ir para o Corunha por estarem a negociar o Jorge Andrade com o Newcastle, nessa altura eu disse ao seu empresário que não queria ver um meu jogador que já foi campeão europeu a sair para o Corunha.

Tenho muito orgulho quando me perguntam onde estão os jogadores que o FC Porto fez ou contratou quando ninguém os conhecia poder responder que o Ricardo Carvalho e o Paulo Ferreira estão no Chelsea, o Deco que o Benfica não quis está no Barcelona, o Pepe que também ninguém quis, esteve a treinar no Sporting e passados alguns meses foi devolvido à procedência está no Real Madrid, isso é que eu tenho orgulho. Nós sabemos escolher, valorizar e torná-los felizes.

J: Quando diz nós...

PC: Não sou eu. Nós FC Porto, treinadores, dirigentes, é o grupo de olheiros que temos quer nacionais ou internacionais. Nós temos grandes jogadores do passado com todo o seu conhecimento e toda a sua paixão pelo FC Porto a trabalhar diariamente no Dragão a ver filmes, o Lima Pereira, o João Pinto também esteve nessa missão, o André, o Bandeirinha, agora o Semedo que estão a ver filmes, fazer selecção de imagens...

J: E quando se enganam?

PC: Quando se enganam mostram que são seres humanos. Quando houver um olheiro que não se engane ... deve ser um espírito com olhos. O índice de aproveitamento dos nossos jogadores é notável. O Anderson é contratado com 17 anos, ninguém o conhecia.

J: E Jesualdo Ferreira é um treinador com futuro no FC Porto?

PC: Se me pergunta que um treinador chega ao FC Porto é campeão, fez e está a fazer um trabalho excelente, é óbvio que é um treinador com futuro. É um treinador competente, extraordinariamente rigoroso e sério porque razão não há-de continuar no FC Porto? A vida dá muita volta, mas tudo leva a crer e espero bem que sim porque ele merece pelo trabalho que tem feito, penso não vir a ter já outro treinador.

J: Como assim?

PC: Mantê-lo no meu mandato.

J: Estamos a falar nas transferências e nas verbas que o FC Porto conseguiu nesta época. Já disse que grande parte dessas verbas vai para cobrir o passivo. Como é que o FC Porto que ainda há três anos fez vendas milionárias também, aparece sistematicamente com passivo?

PC: Posso lhe dizer que o FC Porto fez vendas milionárias relativamente em relação ao presente. Vendemos dois jogadores por 50 M que foi o Ricardo Carvalho por 30 e o Paulo Ferreira por 20, mas quando dizem que desbaratamos uma equipa é uma das coisas mais incríveis que eu já li. As equipas têm ciclos. Quando um clube como o FC Porto ou outro clube português faz uma equipa que tem êxito internacional, é óbvio que perde essa equipa.

J: Está a falar de fim de ciclo de José Mourinho?

PC: Precisamente. E quando nós vendemos esse jogadores compramos outros. Porque agora quando vendemos o Pepe por 30M é porque o dinheiro não foi desbaratado, é porque fomos comprar o Pepe, quando se vende o Lucho é porque... quando se pode vender o Lucho é porque o fomos comprar. O Quaresma não caiu aqui de pára-quedas, também o fomos comprar quando ninguém acreditava nele, nem o Barcelona. E agora todos torcem a orelha. Nós fomos buscar o Helton. É um dos guarda-redes da selecção do Brasil.

J: O Porto passou por um momento difícil com a saída de Mourinho

PC: Naturalmente. Quando uma equipa ganha tudo como aquela, não é só a saída de José Mourinho. É evidente que há um período, uma fase de transição. Como quando esta equipa acabar há-de haver outro, são ciclos. No futebol há ciclos, agora o que é que nós procuramos minimizar? Porque é que nós conseguimos que as grandes equipas acabem e continuemos na CL sempre com prestações valiosas? Porque antes dos jogadores saírem já temos outros a serem observados e com pré acordos para o futuro. Só assim é que é possível. A senhora não consegue dizer a um jogador que ganha 500 mil euros que o Deco foi para o Barcelona ganhar 5 Milhões. Como é que eu posso ter um jogador satisfeito se sabe que aqui ao lado pode ganhar dez vezes mais? É claro que têm que partir. São ciclos.

J: Cometeu erros depois da saída de Mourinho? Cometeu erros na escolha de treinadores?

PC: Eu penso assim, o treinador ganhando pode-se dizer que se acertou, não ganhando que se errou. Há factores que levam a ter que se escolher à pressa. Por exemplo o Mourinho sai numa altura em que é campeão europeu e sai sem se contar. Mourinho dois meses antes tinha-me apresentado um relatório para a época seguinte com os jogadores que queria. Depois com os êxitos internacionais, as coisas desenvolvem-se rapidamente. Ficamos sem aqueles que gostaríamos de ter disponíveis.

J: Foram apanhados desprevenidos

PC: É evidente, naquela altura entramos numa fase de transição que não resultou.

J: Estávamos a falar em finais de ciclo. Quando pensa terminar a sua carreira no Porto?

PC: Quando eu não me sentir motivado para que, como disse à bocado, não me levantar e deitar a pensar no Porto e quando os sócios não quiserem, porque eu não estou no FC Porto por assalto mas sim porque fui eleito. Ainda recentemente voltei a ser eleito e noventa e tal por cento deram-me o seu voto, sinal que querem que eu lá esteja. Enquanto ambos quisermos eu continuarei.

J: Não há algum tipo de apoio que o incomode? Como é que convive com a claque e com os seus excessos?

PC: Reprovando-os firmemente e por isso, ainda não há muito tempo estiveram com todo e qualquer apoio cortado. Curiosamente escrevi, numa página da Revista Dragões, que ainda não saiu, que espero que as claques, não só a nossa mas sobretudo a nossa porque é essa que está ligada a nós, embora oficialmente neste momento não lhe saiba dizer se já está tudo legal, acabem com os cânticos insultuosos seja para quem for. Portanto é evidente que me incomoda.

J: Vamos deixar de ouvir “Queremos Lisboa a arder”?

PC: Isso já não se ouve há muito. Primeiro porque seria uma estupidez e depois porque temos muitos portistas em Lisboa que seria crime vê-los a arder. Até na SIC quando eu vinha só cá havia um hoje há três! (risos)

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