segunda-feira, 13 de agosto de 2007

ENTREVISTA DE PINTO DA COSTA À SIC NOTÍCIAS - I

Ao longo desta semana vou colocar a entrevista de Pinto da Costa à SIC Notícias, transcrita na integra.

É uma entrevista interessante, importante e longa, pelo que decidi apresentá-la por partes para se tornar mais apetecível. Desfrutem!

PRIMEIRA PARTE

Jornalista: A investigação do processo AD resultou em vinte acusações de cinquenta e seis processos que foram abertos, há mais de quinhentos casos de suspeita de falsificação de documentos, há um dos arguídos, o Sr. Pinto de Sousa que é acusado de 144 crimes e como diz o povo, onde há fumo há fogo e o que eu lhe pergunto é, neste processo nas acusações que são conhecidos o que é que é fumo e o que é que é fogo?

Pinto da Costa: Só a justiça é que poderá dizer o que é fumo e o que é fogo, agora e como falou no Sr. Pinto de Sousa eu quero-lhe dizer o seguinte, se tiver que pôr as mão no fogo pela seriedade de alguma pessoa, eu pelo sr. Pinto de Sousa ponho as minhas e tenho a certeza que não me queimo, porque os processos de que ele é acusado, os crimes como pomposamente alguns jornais puseram na sua pessoa eram formas normais, ainda que se calhar não as ideais com que os árbitros eram analisados e classificados mas como compreenderá é um assunto que eu não vou estar a prolongar-me, faço apenas esta observação na medida em que também tentaram envolver-me nisso, na Comunicação Social, nunca percebi porquê quiseram juntar-me a isso mas nesse processo não encontraram a mínima justificação para me envolver.

Agora o que eu tenho a certeza é que quando chegar a hora da justiça ser feita o Sr. Pinto de Sousa demonstrará que é realmente um homem sério.

J: O Sr. neste processo porá as mãos no fogo por muito mais pessoas?

PC: Não quero por o problema em por ou não as mãos no fogo porque eu podia dizer que ponho as mãos no fogo por toda a gente e não ponho as mãos no fogo por ninguém de toda a gente que está envolvida neste processo. O que penso é que tem havido um empolamento de pequenas coisas que em comparação com muitas coisas que sucedem na vida nacional são ridículas. Agora penso se isto não dá jeito para desviar as atenções de casos bem mais graves e a merecer maior atenção.

J: O seu peso neste processo ultrapassou o peso do FC Porto e da actividade desportiva do clube e da sua gestão. Sentiu que houve intenção de o atingir pessoalmente ao longo deste anos de investigação?

PC: Se não houvesse essa ideia generalizada não faria certamente essa pergunta e quando ma faz é óbvio que pensa que eu me posso sentir e sobretudo quando sou deparado...

J: Interpreto as suas palavras porque acabou de dizer que o tentaram envolver...

PC: Quando surgiu o AD, já nem sei há quanto tempo...

J: Em 2004

PC: Sim 2004, foram envolvidos o Presidente da Liga, o Presidente da Arbitragem, árbitros, foi envolvida toda a gente... e eu que estava a ser super, depois se veio a saber, super vigiado, super controlado, com telefones, não fui envolvido. Não encontraram nenhuma matéria para me envolver. Essa primeira fase do processo correu e toda a gente me dizia “Ai quando lá fui ser ouvido perguntavam se com o sr Pinto da Costa nunca teve nada” e toda a gente me dizia “eles querem é metê-lo a si mas realmente não conseguem”. Isto diziam-me a mim.

Quando veio a segunda leva em que fui envolvido, eu costumo dizer na brincadeira , quando era estudante tinha um amigo que sofria de ataques epilépticos e esteve internado no Hospital Conde Ferreira do Porto. Diziam-lhe que era maluco. Ele respondia que esteve internado e teve alta e não sabia se outros lá fossem parar sairiam ou ficariam internados.

Como lhe disse, chegaram ao ponto de andar a vigiar os meus cartões de crédito, a via verde, a ter carros de escuta à porta de minha casa a controlar quem entrava e quem saía. No fim, toda esta onda da corrupção no futebol, que dá para um filme, limita-se a três jogos. Um Nacional – Benfica, em que não há nada de anormal e que para o Porto tanto fazia que ganhasse um como outro porque o Benfica estava a oito pontos na fase final do campeonato e o seu treinador Sr. Camacho tinha assumido nessa semana que o campeonato tinha acabado e iriam lutar pelo segundo lugar; outro jogo FC Porto – Estrela da Amadora em que não houve rigorosamente nada e um Beira Mar – FC Porto em que o único lance duvidoso que há é um penalty a favor do Porto que não é marcado e em que nem sequer ganhamos o jogo.

Quer dizer, de tudo isto, em vinte e cinco anos, em tantos sucessos, em tantas vitórias, aparecem três jogos, dos quais tencionamos publicamente exibir os nossos dois jogos para que realmente quando as pessoas dizem “Pinto da Costa corrupção activa nestes dois jogos” verem aqueles jogos. E quando os virem possam dizer “ realmente se com toda a investigação, os carros a serem controlados, não sei se meteram ships nos meu cães, encontraram esses dois jogos. Não têm rigorosamente mais nada, não tem nenhumas escutas, não têm a falar com árbitros, não têm a falar com dirigentes, não têm rigorosamente nada.

J: Mas em relação a esse jogo Porto – Estrela da Amadora o MP afirma por exemplo que Reinaldo Teles, no final do jogo ofereceu o jantar à equipa de arbitragem em Matosinhos. São acusados e foram apanhados em escutas telefónicas Jacinto Paixão, Reinaldo Teles e o empresário António Araújo que deram a entender que a equipa de arbitragem estaria comprada pela equipa do Porto.

PC: Não, não podem dizer isso. Primeiro porque não é verdade que Reinaldo Teles tenha pago esse jantar. Há uma situação ridícula em relação a isso, já que falou em quem pagou o jantar que eu sei que nesse restaurante, no dia seguinte eu tinha lá estado a jantar com outra pessoa e foram lá perguntar se eu tinha lá estado a jantar. Disseram que sim senhor. Quiseram ver como é que tinha pago a conta. Felizmente que paguei com o cartão de crédito a despesa que creio foi de 53 euros. Esta conta para pagar a despesa de seis, sete ou oito pessoas, realmente... come-se barato nalguns sítios mas naquele não era de certeza absoluta. Quer dizer as pessoas andavam realmente... Eu acho que não houve a intenção de averiguar, houve um objectivo de tentar culpabilizar essa pessoa porque só assim...

J: De quem era esse objectivo?

PC: Eu vou ser muito claro. Quem é que sempre falou no AD? Foi o Sr. Luís Filipe Vieira! E porquê? Eu vou-lhe dizer porquê assumidamente e claramente. Ele foi, quando presidente do Alverca, visita de minha casa, ía ver os jogos do FC Porto, festejava connosco as vitórias do FC Porto. Há uma fotografia dum Porto – Benfica que ganhamos por 2-0, no tempo do treinador António Oliveira, em que sai num jornal ele à porta do balneário do FC Porto, a meu lado. Eu tinha-o mandado para dentro, estava eu, ele e o Sr. Rui Neno e ele disse ”Não eu quero que eles me vejam”, no tempo do Vale e Azevedo. Portanto ele festejava as vitórias do FC Porto sobre o Benfica, ele era visto no nosso camarote, ele é sócio do FC Porto. Quando estava no Alverca telefonava-me a festejar. Cheguei a ir ver jogos a Alverca e depois jantar com ele.

J: Então o que é que o tornou em inimigo?

PC: O Sr. LFV quando assume a presidência do Benfica tem uma marca, é amigo de Pinto da Costa. Tenho fotografias que ele me ofereceu de convívios, oferecia grandes jantares quando íamos a Alverca com os convidados todos. Convidava a comitiva do FC Porto. Punha uma limozina para nos levar para uma quinta perto de Estádio, e tinha ali um ferrete, este é amigo do Porto. Naturalmente que teve de se demarcar para entrar em guerra com o FC Porto para ganhar a simpatia dos seus adeptos.

Naturalmente que entrou como entram muitos, com fanfarronices, que vão ser campeões todos os anos, que vão ganhar tudo, vão ganhar a todos e depois não ganhava nada. Como é que se pode depois justificar o insucesso? Todas as épocas antes de começar o campeonato vão ser campeões. Compram às carradas de jogadores que são os melhores. Grandes títulos, este é mesmo bom, agora é que vai ser e coisas no género a todo o individuo que chegue. Duma assentada, recordo-me que estava a fazer umas curtas férias com o Dr. João Rodrigues que é um grande benfiquista e está lá ligado ao Benfica. O Benfica contratou 4 jogadores no defeso, O Moretto, o Marco Ferreira, o Marcel e o Manduca. Lembro-me do Dr. João Rodrigues telefonar para o Sr. Vieira e dizer: “ Presidente estou a assistir a isto, grande baile que o Sr. está a dar, fantástico!”

Passados seis meses foram todos corridos! Nenhum está no Benfica. Agora esse insucesso...

J: O senhor considera que o processo AD serve para esconder os maus resultados do Benfica?

PC: Não tenho a mínima dúvida. Repare uma coisa, quem é que falou sempre no processo AD? Com todas as escutas e todas as vigilâncias o processo resume-se a três jogos em que, repito, não houve rigorosamente nada nesses jogos. É isso que prova que o FC Porto era beneficiado.

Agora quando se perde sistematicamente, vende gato por lebre, se diz que os Manducas, Marcos Ferreiras, Marceis e Morettos são os grandes craques, que vão ser campeões e depois têm que se mandar embora porque não servem, é evidente que é muito mais fácil dizer que “Nós perdemos porque o Porto controla e os outros controlam” do que dizer assim “Nós não somos capazes, nõs compramos mal os jogadores, nós vendemos os jogadores que não devíamos vender” e é muito mais fácil as atenções para aí.

J: Mas acha fácil acreditar que uma equipa da PGR, que é a PJ Portuguesa, dedica a atenção que dedicou a um processo destes por vontade, por necessidade ou estratégia de LFV?

PC: Eu vou-lhe dizer o seguinte. O processo AD no que me diz respeito e estava envolvido, estes processos que estamos a falar foram arquivados. Não é arquivado por mim ou os meus advogados. Foram arquivados por magistrados que não conheço, que não são menos competentes nem menos rigorosos nem menos minuciosos que os da actual equipa.

J: O Senhor está a contestar... contesta na justiça a reabertura destes processos?

PC: Contesto pelo seguinte. Foram arquivados e continuaram a falar e surge o dito livro. E é esse dito livro que serve de pretexto à reabertura do processo porque é considerada pessoa idónea a pessoa que escreveu o livro. O original tem coisas que não estão no livro que saiu.

J: O senhor tem o original do “Eu Carolina”?

PC: Não tenho mas há quem tenha e sei o que lá está. O original, alias a escritora, a primeira escritora que depois a segunda é a Leonor Pinhão que foi quem fez as rectificações. A primeira escritora já o disse, até no MP segundo vem no jornal, que o livro que vem cá para fora não é o livro que ela escreveu. Há coisas que foram retiradas, outras postas e outras modificadas na edição que saiu cá para fora. E vi declarações da escritora que disse claramente, que se retirou daquilo, que estava aborrecida, porque tinha verificado que foi ludibriada por não ter percebido as intenções que estavam no livro, alias...

J: Leu o livro?

PC: Não li. Li tudo o que saiu na Imprensa, o livro não.

Há um pormenor muito importante. Há dias o sr. Joaquim Salgado foi à televisão e disse uma coisa muito importante sobre o livro. Foram tiradas duas coisas que não interessavam para o objectivo do livro. É curioso. Foram tiradas duas coisas, que eu sei o que são, que não interessavam para o objectivo.

J: Quais são?

PC: Não vou dizer porque penso que estão em segredo de justiça, uma vez que já foi apresentado no MP o livro.

Como é que nasce o livro? É preciso ver como nasce! A primeira pessoa que me falou no livro foi um tal Dr. Dantas, advogado da “senhora”que queria discutir verbas que eu ia dar ou não ia dar, e eu disse-lhe “Óh doutor o senhor...”

J: Verbas para que o livro não saísse?

PC: Não. Verbas que eu teria de dar à Carolina para fazer um entendimento. Respondi que nada tinha que dar por não ser casado com ela, nem ter intenções de o fazer. E na presença do Dr. Lourenço Pinto que esse senhor me informou que ela até poderia escrever um livro. Respondi-lhe: “Ela pode fazer um livro que eu faço o prefácio. Se ela quer escrever um livro com impacto para mostrar o que é, eu faço-lhe o prefácio”.

Um comentário:

lucho disse...

Esteve em bom nível o velho PC. Sim senhor.