quarta-feira, 23 de abril de 2008

BAÚ DE MEMÓRIAS

1989/1990 A INFLUÊNCIA DO REGRESSO DO HERÓI

Depois de uma época atribulada sob o comando de Quinito, que deslumbrado com a grandeza de um clube que tinha ganho quase tudo , não foi capaz de manter o rumo, Pinto da Costa não hesitou em fazer regressar o treinador campeão europeu, ainda antes da época terminar, com a missão de reconstruir a equipa e devolver-lhe a ambição.

Artur Jorge surgia com o capital de prestígio que lhe concedia a autoridade moral para dispensar jogadores que tinham sido muito valiosos para o FC Porto e substituí-los por outros, mais novos e ambiciosos.

Esta renovação não foi pacífica, porque ninguém gosta de se ver desvalorizado, tendo a Comunicação Social do costume explorado até à exaustão o descontentamento dos visados para lhes conceder tempo de antena com sucessivas entrevistas, procurando assim criar um clima de desconfiança, de descrença e de divisão interna que os responsáveis portistas sabiamente geriram.

Eram muitas as caras novas vindas de outros clubes que se juntaram a algumas promoções oriundas dos júniores.

Na foto da esq. para a direita, em baixo: Ricardo (roupeiro), Kiki, Marito, Morato, Abilio, Caetano, Bandeirinha, João Pinto, Domingos, Jaime Magalhães, Barriga, Madjer e Brandão (roupeiro(; Ao meio: Diamantino (massagista), Agostinho(roupeiro), Rui Águas, Demol, H.Gonçalves (Prep.físico), Reinaldo Teles (D.Futebol), Artur Jorge (Treinador), Murça, Octávio (Adjuntos), Toni, Pingo, Dr. Domingos Gomes (Médico), ?? e Rudolfo Moura (Massagista); Em cima: Nascimento, Geraldão, Semedo, Silvino, Jorge Couto, Vítor Baía, Branco, André, Paulo Pereira e José Luís (Massagista)

A pré-época deixara indicações pouco animadoras pois tinha sido recheada de derrotas, o bastante para os Dragões serem imediatamente apontados com candidatos à luta por um lugar nas provas da Uefa, deixando para os rivais a luta pelo título, como aliás já era hábito.

A equipa técnica estava consciente das dificuldades e com a noção exacta do caminho a percorrer.
Tratou cada jogo especificamente aplicando-lhe a receita táctica mais conveniente.

O Campeonato começou nas Antas, que apesar dos sucessivos resultados negativos da fase de preparação, apresentou uma moldura humana muito interessante, transmitindo desde logo para o grupo, uma confiança absoluta da massa adepta que os atletas souberam merecer.

O Porto entrou bem, com quatro vitórias consecutivas, até que surgiu a primeira e única derrota da primeira volta, em Alvalade, frente ao Sporting, na sequência de um lance infeliz de André que fez auto-golo.

Depois, o FC Porto manteve-se 25 jornadas sem perder, demonstrando a superior capacidade de um conjunto bem moralizado para a vitória.

A candidatura ao título foi-se vincando no braço-de-ferro com o Benfica, que à 23ª jornada recebeu o FC Porto. Os Dragões deslocaram-se à Luz com uma vantagem pontual de três pontos e um resultado positivo significaria um passo quase decisivo para o objectivo final.

Por isso, Artur Jorge arquitectou um dispositivo táctico que surpreendeu Eriksson ao jogar para ganhar, quando todos esperavam que jogasse para não perder. O resultado foi um empate sem golos, apesar do grande susto que Rui Águas, jogador a envergar as cores azuis-e-brancas, resultado de uma transferência que incendiou as relações entre os dois clubes, provocou perto do fim do encontro ao disparar de cabeça um remate que Silvino desviou «in-extremis» para canto.

Até final o FC Porto ainda averbou nova derrota, no Restelo por 1-0 na 31ª jornada, adiando a festa para a jornada seguinte, nas Antas frente ao Setúbal.

Com a vitória nesse jogo a cidade voltava a viver o S. João antecipado, pintado de azul e branco, em pleno mês de Maio.

Seguíram-se os dois jogos finais, para cumprir calendário, com uma vitória em Guimarães e um empate nas Antas frente ao Beira-Mar, num fecho de campeonato que ficou na memória dos adeptos como o dia em que a barbárie da PSP desceu ao relvado para castigar de forma estúpida quantos pretendiam , como habitualmente, festejar no relvado junto dos seus ídolos mais um triunfo espectacular.

Na festa proporcionada pela Câmara Municipal do Porto, Pinto da Costa fez uma referência directa à conquista do título, referindo que foi obtido contra muita coisa: "O Porto soube resistir a tudo, até às agressões policiais".

ARTUR JORGE

Pertenceu como jogador às camadas jovens do FC Porto, que representou dos 15 aos 19 anos.

Passou depois pela Académica e Benfica, terminando a sua carreira no Belenenses em 1978. Foi várias vezes internacional.

No seu palmarés conta com 4 títulos de campeão nacional e 3 taças de Portugal, 2 bolas de prata de melhor marcador, tudo ao serviço do Benfica.

Com formação académica, Artur Jorge tirou o curso de treinador de futebol na Alemanha Oriental , obtendo com distinção o diploma na Escola de treinadores de Leipzig.


Treinou o Belenenses e o Portimonense, depois de ter sido adjunto de Pedroto, no Vitória de Guimarães.


Foi a aposta de Pinto da Costa depois da morte de José Maria Pedroto, vencendo dois campeonatos seguídos em 84/85 e 85/86. Em 86/87 conduziu o FC Porto ao Título de Campeão da Europa, desiderato que é partilhado com José Mourinho, únicos treinadores portugueses a consegui-lo e ambos ao serviço dos Dragões.

No final dessa época assinou pelo Matra Racing de Paris.
Regressou para substitui Quinito que não acabou a época e voltou a ser campeão pelo FC Porto em 89/90.

Como treinador é o único português com 3 campeonatos de futebol sénior ganhos, sempre no FC Porto.

Artur Jorge fica ligado ao Clube por ter sido um dos melhores treinadores de sempre na história do FC Porto.

Um comentário:

dragao vila pouca disse...

Uma bela recordação da época da renovação e do relançamento. Lembro-me bem desse Benfica-Porto e também do jogo do título, esse por más razões( assaltaram-me o carro e roubaram-no o Rádio), mas com alegria da conquista do campeonato custou menos a digerir esse problema.
Na pré-época não tivemos vitórias, mas não foram só derrotas, houve vários empates e até conquistamos um torneio prestigiado em Itália depois de dois 0-0 e vitória nas g.penalidades.
Um abraço