quinta-feira, 6 de março de 2008

BAÚ DE MEMÓRIAS

Depois de falhado o tri, por uma unha negra, ainda com Pedroto no comando e Pinto da Costa na chefia do Departamento de Futebol, tendo como pano de fundo o célebre jogo entre o Guimarães e o Sporting , em que Manaca, ex-jogador leonino marcou na própria baliza com uma cabeçada digna de um ponta de lança, oferecendo o campeonato ao seu anterior clube, surgiram alguns desencontros entre o Departamento de Futebol e o Presidente da Direcção do Clube Dr. Américo de Sá.

O clima não era o melhor, sendo evidente a discordância do Presidente com a forma corajosa e atrevida com que os responsáveis pelo futebol portista enfrentavam o poder centralista que tudo fazia para manter os clubes de Lisboa na crista da onda. O Dr. Américo de Sá, deputado do CDS na Assembleia da República era literalmente pressionado para desmobilizar essa luta. Ao verificarem que o Presidente privilegiava os seus interesses políticos em detrimento dos clubista, Pedroto e Pinto da Costa renunciaram aos seus cargos, adiando desta forma, felizmente por pouco tempo, a missão de transformar o FC Porto no melhor clube português e um dos melhores do mundo.

1984/1985 DE NOVO NO TRILHO DO SUCESSO

Esse interregno durou até à época de 1982/1983, altura em que Pinto da Costa foi eleito Presidente do Clube.

Novamente com Pedroto ao leme, o FC Porto não foi além do 2º lugar desse campeonato, num ano financeiramente difícil para o Clube.

Na época seguinte Pedroto adoeceu gravemente e entregou a equipa ao seu adjunto António Morais, conduzindo-a na luta pelo título, acabando no 2º lugar a três pontos do Benfica mas garantindo as vitórias na Taça de Portugal frente ao Rio Ave por 4-1 e na Supertaça.

O ponto mais alto desta época ficou marcada pela primeira presença numa final europeia, a Taça das Taças, que viria a perder ingloriamente frente aos italianos da Juventus.

Urgia retomar o trilho do sucesso. As bases estavam lançadas.

Havia contudo, a difícil tarefa de encontrar o treinador ideal para substituir o "Mestre", cada vez mais entregue ao seu penoso destino.

Artur Jorge foi o nome aconselhado por Pedroto. Apesar da sua ainda curta experiência no cargo, levantar divergências no seio da Direcção, Pinto da Costa seguiu a sugestão do seu amigo e decidiu contratá-lo.

A pré-época 1984/1985 foi um autêntico vendaval. Jaime Pacheco e Sousa, dois jogadores do meio campo portista que tão bem tinham jogado, tornando-se jogadores chave na manobra da equipa, foram assediados pelo Sporting que os contratou ao abrigo de famigerado artigo então vigente - falta de condições psicológicas!

Em resposta, Pinto da Costa contratou o jovem Futre aos leões, deixando-os, bem como à Imprensa lisboeta, à beira de um ataque de nervos. Para colmatar a saída dos centro-campistas vieram Quim e André.

Os pasquins davam como certa a vitória do Sporting mesmo antes do campeonato começar.

Apesar de derrotado pelo Boavista na 2ª jornada, única diga-se, o Porto ia demonstrando ser capaz de lutar pelo título até ao fim. As exibições rubricadas pela equipa provavam que as aquisições feitas pelos dragões permitiam acalentar ambições. A deserção dos "insubstituíveis" pouco ou nada afectou. A equipa ganhava entrosamento e assimilava da melhor forma as características introduzidas por Artur Jorge.

À 7ª jornada o FC Porto assumiu a liderança isolada para não mais a ceder. À 18ª foi à Luz vencer o Benfica, deixando o Sporting mais directo perseguidor a 4 pontos.

A cinco rondas do final a vantagem portista era de seis pontos e competia-lhe deslocar-se a Alvalade para discutir o título. Era o jogo do tudo ou nada para os leões. A Comunicação Social procurava, com elogios e incitações, insuflar confiança nos lisboetas no sentido de encurtar distâncias, convencidos que ainda era possível destronar o Porto.

Os adeptos portistas responderam a essas provocações com uma presença maciça, encetando uma autêntica invasão a Lisboa. O topo norte do Estádio de Alvalade pintou-se de azul e branco. Era uma loucura. Parecia que estávamos a jogar em casa. Todos sabíamos que um resultado positivo era sinónimo de festa.

E assim aconteceu, o Porto empatou a zero mas passeou a sua classe, mantendo a vantagem pontual, liquidando de vez as aspirações do seu rival, aprestando-se para conquistar com brilho mais um Campeonato Nacional, feito perfeitamente justificado após uma época de domínio avassalador. Artur Jorge, seguindo o trilho do "Mestre" soube formar uma equipa coesa, homogénea e personalizada. A festa aconteceu, espontânea, pintada de azul e branco, no reduto dos leões.

Zé Beto, João Pinto, Eurico, Lima Pereira, Inácio, André, Frasco, Quim, Jaime Magalhães, Fernando Gomes, Futre, Eduardo Luis, Semedo, Vermelhinho, Quinito, Mike Walsh, Costa e Paulinho Cascavel foram os principais protagonistas da equipa.


A festa efectiva do título aconteceu nas Antas frente ao Belenenses, na 27ª jornada, a três do fim. O Sporting tinha cedido um empate em Vila do Conde e ao Porto bastava vencer para se sagrar desde logo Campeão Nacional. O Estádio encheu pelas costuras! Adivinhava-se o triunfo. A equipa não desiludiu. O Porto venceu e o povo vibrou a festa arrastando as manifestações de júbilo por toda a cidade, num S. João antecipado.

Com 26 vitórias, 3 empates e uma derrota, somando 55 pontos contra 47 do Sporting, se fez a história deste campeonato. 78 golos marcados contra 13 sofridos rendeu o melhor ataque e a melhor defesa. Fernando Gomes apontou 39 golos e juntou à bola de prata a sua segunda bota de ouro, galardão que premeia o melhor marcador da Europa. A primeira tinha sido em 1982/1983 com 36 golos.


FERNANDO GOMES

Atleta proveniente das camadas jovens, cedo começou a envergar as cores azuis e brancas. O seu nome está associado a alguns dos maiores feitos do FC Porto, o clube que ama e serviu com devoção. Foi um dos melhores pontas de lança de todos os tempos do futebol português. Para além dos Dragões representou ainda o Sporting de Gijon (Espanha) e o Sporting Clube de Portugal. No FC Porto foi campeão nacional por cinco vezes, tendo ganho ainda uma Taça dos Campeões Europeus, uma Supertaça Europeia, uma Taça Intercontinental e três taças de Portugal. Jogador internacional, representou a selecção 48 vezes, ao serviço da qual marcou 13 golos. Fez parte da selecção que disputou a fase final do Campeonato do Mundo de 1986. Marcou 318 golos no campeonato português, 288 dos quais pelo FC Porto, sendo o maior goleador de sempre e uma das mais populares figuras deste Clube.

Ganhou seis vezes o troféu de melhor marcador nacional e foi por duas vezes o melhor marcador da Europa, ganhando por isso a alcunha de Bi-bota de ouro.

3 comentários:

Paulo Pereira disse...

Gratas recordações!

Vivi, com 7 anos, a euforia do meu pai e avô, no fim de um jejum de 19 anos sem títulos. A alegria, indescritível, tocou-me para sempre. A partir daí era ver-me, aos Domingos, junto a eles, ouvindo os relatos, ansioso. E, esse golo de Manaca, numa traição da sorte (e algo mais) foi a primeira desilusão tremenda, k me fez chorar. O tri falhado por um acaso do Destino (ou algo mais).

Depois do célebre Verão quente nas Antas, com ameaças de greve e posições extremadas, o Porto entrou, pela mão de Pinto da Costa, num ciclo de consecutivas vitórias. O engenho do líder portista ficou bem visível, mais uma vez, nesse raide a Lisboa, trazendo o franzino Futre por meia dúzia de patacos. Recordo-me bem do tom jocoso de João Rocha, inchado de orgulho por nos ter roubado Sousa e Jaime Pacheco.

O resultado já se sabe. O erra histórico leonino permitiu ao Porto a construção de uma equipa de trabalho, mesclada com a magia do Magrebe e de Futre. Com eles, Artur Jorge levou-nos aos píncaros da lua. Brilhantes exibições, fazendo com k a hegemonia nacional se tornasse mais vincada, e conferindo dimensão europeia às cores azuis e brancas.

ps: A frustração pela eliminação prematura na Champions continua, mas amenizada pelo Getafe:)

dragao vila pouca disse...

Esta época que para mim é daquelas que fica na memória para sempre pela beleza do futebol jogado pela nossa equipa, serve de exemplo para o meu post de lançamento do jogo com a Académica.
Parabéns pelo post que é magnífico
Um abraço

Pedro Silva disse...

Grande Trabalho Dragão Penta Campeão!!! Mas é engraçado verificar que estas manobras do bota abaixo ao nosso Futebol Clube do Porto ainda hoje se mantem... E espero que se mantenham por muitos anos porque faz de nós os mais fortes!!!

Saudações Portistas!!!