quarta-feira, 26 de março de 2008

BAÚ DE MEMÓRIAS

O slogan da campanha de Pinto da Costa à presidência do FC Porto, em Abril de 1982 era: «SE QUERES UM FC PORTO FORTE EM PORTUGAL E NA EUROPA, VOTA NA LISTA B»

E realmente o Presidente cumpriu a promessa.

A CONQUISTA DA EUROPA

Conseguída a supremacia a nível nacional, a ambição de Pinto da Costa e sua equipa renovava-se e crescia a cada dia.

Demonstrar que a performance manifestada em termos europeus na época de 1983/1984 com a disputa da final da Taça das Taças, não tinha acontecido por acaso, era agora um dos objectivos prioritários.

Com Artur Jorge ao leme, apoiado pelos dirigentes e massa associativa, o FC Porto foi refinando os métodos de treino, reforçando o plantel devidamente e partiu definitivamente à conquista da Europa.

1986/1987 foi a época da concretização desse objectivo que foi sendo cimentado à medida que os adversários foram caindo, um após o outro até à vitória final.

O primeiro a tombar foi o acessível clube maltês Rabat Ajax.

Na primeira-mão, jogada em casa emprestada, no Estádio dos Arcos em Vila do Conde, face às obras do rebaixamento do Estádio das Antas, o desempenho portista foi de tal forma avassalador que o resultado final de cifrou nuns claros 9-0, ficando desde logo sentenciada a sorte da eliminatória.

O Porto voltou a ganhar na visita a La Valleta mas apenas por 1-0. O resultado do primeiro jogo aliado ao mau estado do relvado, bem como a exibição do guarda-redes maltês explicam a magreza do resultado.

Seguiu-se o campeão da Checoslováquia, o Vitkovice, que tinha eliminado o Paris Saint German. Praticante de um futebol mais evoluído, tornou-se um "osso" duro de roer.

A jogar em casa na primeira-mão os campeões checos foram uma equipa perigosa e difícil, infligindo a única derrota nesta campanha ao FC Porto. Os Dragões perderam por 1-0, ficando obrigados a corrigir nas Antas.

E o Porto rubricou efectivamente uma exibição de luxo, perante uma assistência de cerca de 80.000 pessoas (é verdade, o renovado Estádio das Antas permitia tal lotação). Aos rasgos de génio individual juntou-se uma notável mecanização do conjunto, numa harmonia perfeita que embelezou o espectáculo. Que belo jogo e que resultado. 3-0, mas até podiam ter sido mais!

Nessa noite saímos das Antas convictos que com este futebol poucas equipas seriam capazes de nos travar.

O sorteio para os quartos-de-final ditou o campeão dinamarquês, o Brondby.

Embora desconhecidos, os dinamarqueses mostraram muita qualidade e deram muito trabalho.
No primeiro jogo, nas Antas, o FC Porto não foi além do magro 1-0, apesar de ter tido hipótese de conquistar um resultado bem mais tranquilo. Mas também neste jogo a exibição do guarda-redes contrário aliado a alguma ineficácia nos remates ditaram o resultado.

Esperava-se tarefa complicada em Copenhaga, num clima adverso, com um frio de arrepiar. Mas a formação azul e branca apresentou-se disposta a ultrapassar as contrariedades, que se foram avolumando com a lesão de Casagrande e o golo dinamarquês que igualava a eliminatória.

Aos 70' Juary tornou-se no herói ao concretizar o golo que nos colocou nas meias-finais.
Foi um jogo onde imperou a experiência, valor, humildade, talento e ambição dos atletas portistas.

Nessa madrugada a equipa pode sentir à chegada o calor e o reconhecimento de uma pequena multidão que se deslocou ao aeroporto.

O sorteio de Zurique colocou-nos no caminho um teste ainda mais difícil para esgrimir nas meias-finais: O Dínamo de Kieve, o mais lidimo representante do futebol soviético. Era na altura uma das melhores equipas do mundo, servida por vários jogadores internacionais com destaque para Belanov e Blokhine.

O primeiro jogo disputou-se nas Antas e o Porto conseguiu mais uma excelente exibição, tendo tido momentos de grande brilhantismo e criando inúmeras ocasiões para construir um resultado condizente e tranquilo. Contudo, umas vezes por manifesta infelicidade outras por menor acerto no remate , os azuis e brancos concretizaram apenas por duas vezes e ainda sofreram um comprometedor golo adversário deixando aos soviéticos margem para algumas esperanças de rectificação na URSS.

Mas a equipa portista era ambiciosa e não se limitou a jogar para o empate. Celso, o defesa central do Porto, quase no início da partida, na marcação de um livre directo, abriu o activo. Os soviéticos ficaram atarantados e Madjer logo a seguir quase fazia novo golo. A confiança subia à medida que o tempo avançava. Gomes, uns minutos mais tarde fez o segundo. Foi o delírio! O sonho estava cada vez mais perto. Mikhailitchenco ainda reduziu mas os Dragões já controlavam a partida e o resultado não mais se alterou.

Estava consumada a passagem a mais uma final nas competições europeias, a segunda em três anos do historial portista.

Bayern de Munique era o colosso, o Golias com que tínhamos de medir forças na grande final.
O seu historial não deixava dúvidas: Tri campeão europeu, vencedor de um Taça das Taças e de uma Taça Intercontinental, os alemães pareciam condenados ao triunfo.

27 de Maio de 1987 foi o dia que ficou gravado a letras de ouro na história do FC Porto e na vida dos seus adeptos.

Disputado no Estádio do Prater, em Viena de Austria, paredes meias com a Alemanha, os adeptos bávaros encontravam-se em esmagadora maioria nas bancadas.

O Porto entrou timidamente a estudar os movimentos alemães que encararam esta partida com alguma arrogância e sobranceria, convencidos da fragilidade dos seus opositores.

Marcaram primeiro num lance fortuito e esse facto ainda mais os convenceram, chegando ao intervalo com essa vantagem.

Na segunda parte os Dragões transfiguraram-se por completo. Entraram a mandar no jogo pois só restava tentar dar a volta ao resultado, partindo para uma exibição memorável, com lances bem construídos protagonizados por Frasco, Futre, Madjer e Juary, num espectáculo de rara beleza que todo o mundo apreciou.

O corolário dessa bela transfiguração foi a marcação de dois golos de belo recorte técnico que vale a pena recordar.

O primeiro ficaria no compêndio do futebol por ter sido marcado de calcanhar, de costas para a baliza, pelo argelino Madjer, depois de uma bonita jogada colectiva.

Só uma equipa com grande ambição poderia ter capacidade para construir uma nova logada, mais uma vez por Madjer, que lançado pela esquerda conseguiu cruzar, no limite, colocando a bola na área à disposição do ladino, rápido e oportunista Juary que não perdoou.

Estava consumada uma saborosa e brilhante vitória, frente aos atordoados e incrédulos alemães, dando a conhecer ao mundo a existência de um clube do Norte de Portugal, capaz de ser o melhor da Europa e com a ambição de se tornar o melhor do mundo.

A loucura que se seguiu por todo o mundo onde se encontravam portugueses foi indescritível.

Na cidade do Porto festejou-se até às tantas da madrugada à espera dos heróis que se deslocaram ao Estádio das Antas para receberem as merecidas e calorosas homenagens, onde exibiram o troféu

4 comentários:

dragao vila pouca disse...

Parabéns;qualidade e rigor.´
Foi um feito histórico que colocou o F.C.Porto nos píncaros do futebol Europeu, mas, também começou no nosso cantinho à beira-mar plantado, a inveja e o desdem, daqueles que se aperceberam, que dali para a frente nada seria como dantes.
O futuro veio a provar tudo isso e ainda hoje o F.C.Porto é atacado, caluniado e vilipendiado, por quem não perdoa que um clube fora da capital possa ser o melhor clube português.
Um abraço

Dragaopentacampeao disse...

Pois é, mas pior que tudo isso é que alguns dos responsáveis pela justiça se disponham a contribuir para esse ambiente, aceitando de bom grado testemunhos e situações sem qualquer credibilidade de pessoas que até, noutras circunstâncias, foram assim reconhecidas.

Espero sinceramente que o Porto continue na senda das vitórias, qualquer que seja o desfecho em tribunal, par continuar a demonstrar que ganhamos porque somos melhores.

Paulo Pereira disse...

Bela epopeia, revista com nostalgia e imenso orgulho.

1987. 16 anos na altura. E nada mudou. Continuo louco com o Porto...

É bom poder saborear estas memórias. Desfiá-las. Relembrá-las. Como se fosse hoje.

De férias da Pascoa, por alturas da meia-final, vista com fervor em casa de um amigo, na Praia da Vagueira. Depois do 2-1 da 1ª mão, com exibição magistral de Futre, aqueles 10 minutos iniciais, calando os ucranianos, com dois golos de rajada...

Depois foi sofrer, com a imensa e valorosa reacção de uma equipa k era detentora da Taça das Taças. Finalmente, o alívio e uma alegria incontida. Estavamos na final. 3 anos depois de Basileia. Sai para a rua, comemorando eufórico...

Os dias contados até à final. O nervosismo desse dia. E o jogo. Sofrido. Épico. K mostrou à Europa as cores azuis e brancas. Confesso. Chorei nessa noite. De frustração, quando a bola rematada por Futre errou por milímetros o alvo. De alegria, com o talento incomparável de Madjer...

O orgulho da festa. O cchecol que me acompanhou no dia seguinte, na escola. Memórias que, mesmo após 20 anos, ainda me deixam de pele arrepiada.

Grande texto!

Sérgio de Oliveira disse...

Parabéns ao Dragaopentacampeao por este relevante texto.


Um abraço