quarta-feira, 3 de março de 2010

ECLETISMO - PARTE II

A patinagem, uma das «meninas dos olhos» de José Monteiro da Costa, que à falta de melhor espaço promoveu elegantes sessões na Garagem Auto-Motora, contava sempre com a presença das mais chiques senhoras do Porto.

Não tardou por isso, que um grupo de três associados portistas, Joaquim Pereira da Silva, António Martins Ribeiro e Manuel Ribeiro da Silva, apresentassem uma proposta para a construção de um rinque na Constituição. A proposta foi aceite e em 18 de Maio de 1914 ficaria pronto a receber um festival desportivo com patinagem, ginástica e ténis.

Só em 1944 o hóquei em patins entrou no FC Porto, ano em que o Clube participou em provas oficiais, inscrevendo-se nos torneios regionais. Contudo, só em 1955, após um interregno em que a secção esteve desactivada, os Dragões conquistaram o primeiro título ao vencerem o Campeonato Metropolitano da 2ª Divisão.

Esta equipa era constituída por Campos, Luís Sousa Mota, Acúrsio Carrelo (guarda-redes da equipa principal de futebol), Rúben Lopez (jogador de basquetebol), Morais (jogador reservista de futebol) e Abílio Moreira, com a curiosidade de ter três jogadores oriundos de outras modalidades que disputavam em simultâneo.

Uma das equipas de que fez parte Acúrsio Carrelo, o último em baixo, da esquerda para a direita. (Foto retirada do Blogue Memória Azul)

Acúrsio foi o primeiro internacional portista de hóquei em patins, tendo feito parte, em 1957, da equipa portuguesa no Torneio de Montreux, com seis golos apontados. Jogou igualmente o Europeu desse ano em Barcelona, contribuindo com dois golos. Com a chegada do profissionalismo ao futebol, Acúrsio Carrelo e Morais cessaram as suas contribuições ao hóquei em patins.

Na década de sessenta, os escalões jovens começaram a fornecer jogadores de grande qualidade, como Hernâni e Cristiano Pereira que estiveram na base da conquista do Campeonato Metropolitano da 1ª Divisão, em 1969. Este título constituiu um marco nas prestações do hóquei azul e branco, já em franco crescimento, passando a disputar o primeiro lugar que no entanto foi escapando às vezes por «uma unha negra».

Campeões Metropolitanos da 1ª Divisão em 1969: Da esquerda para a direita, em baixo: J. Leite, João de Brito, Cristiano, Castro e Ricardo; Em cima: Hernâni, Zé Fernandes e António Júlio

Cristiano Pereira, oriundo das camadas jovens, manteve-se no Clube até 1979, regressando em 1983. Foi por duas vezes Campeão Nacional (1983/84 e 1984/85) e venceu uma Taça de Portugal.


Foi internacional sénior 150 vezes e como titular, campeão da Europa por cinco vezes e duas campeão do Mundo. Considerado o melhor jogador mundial de 1980 (no campeonato do Mundo no Chile), cotou-se como o melhor marcador, em 1987, no campeonato do Mundo na Argentina.

Orgulho dos adeptos do FC Porto foi durante muitos anos o nosso único representante na selecção nacional. Jogador de vincado talento e um dos que melhor interpretaram a arte de patinar aliada a vocação de transformar um simples jogo de hóquei em patins num espectáculo extraordinário de beleza e vibração. O seu prestígio atravessou fronteiras e levou-o mesmo a emigrar para Espanha, no Liceo da Corunha, onde passeou toda a sua classe, antes de regressar. Construiu ma carreira notável como jogador que teve sequência como treinador.

No FC Porto como na selecção, Cristiano conduziu do banco, a novos títulos nacionais e internacionais, cujos destaques vão para a conquista da Taça dos Campeões Europeus, em 1986, frente ao Novara de Itália, pelo FC Porto e o Campeonato do Mundo, em 1966, como seleccionador de Portugal.


Cristiano Pereira


Antes de se tornar Campeão Nacional, o FC Porto venceu a sua primeira Taça Europeia. Mais concretamente a Taça dos vencedores das Taças, em 1981/82. Na época seguinte chegou finalmente ao título Nacional e bisou a conquista da Taça das Taças.

Campeões Nacionais 1984/85

Desde então não mais parou a senda de vitórias, imprimindo uma forte hegemonia no hóquei patinado português (com uma sequência de oito campeonatos seguidos, até ao momento...) , construindo um palmarés a todos os título notável:

Campeões europeus de 1985/86: Da esquerda para a direita, em baixo: Vale, Domingos, Franquelim e Vítor Hugo; Em cima: Alves, Domingos Carvalho, Tó Neves, Vítor Bruno, Almas e Realista

Campeões Europeus de 1995/96: Da esquerda para a direita, em baixo: Rui Neto, Rui Félix, Paulo Freitas, Franquelim e Vítor Hugo; Em cima: António Alves (capitão), Carlos Realista, Diego Allende, Vítor Bruno e Tó Neves


Fontes: Revista Dragões; Figuras & Factos, de J. Tamagnini Barbosa e Manuel Dias; Memorial FC Porto, de Júlio Magalhães; Wikipédia e o Blogue Lôngara, do amigo Armando Pinto

3 comentários:

dragao vila pouca disse...

Belíssima página da nossa história, que é tão rica e não só no futebol...

Um abraço

Anônimo disse...

O Hóquei em Patins, como segunda modalidade do clube e do país, por assim dizer, fica assim muito bem retratado aqui.
Grato pelo reconhecimento e amizade, entre Portistas.
Quem gosta do F C Porto tem mesmo de saber valorizar o que nos anima!

rogério paulo almeida disse...

Dos Campeões Metropolitanos de 1969 podemos retirar três futuros técnicos vencedores de provas europeias... João de Brito, Taça das Taças 1981/82; Cristiano Pereira, Taça dos Campeões 1985/86 e Supertaça Europeia 1986/87; e José Fernandes, Taça dos Campeões 1989/90.

Um abraço